domingo, 18 de julho de 2010

Dia do Homem?!



Dia 15 de julho: Dia do Homem. Para minha surpresa, a data é um fato e parece que intenciona "pegar", ainda mais se depender do mercado. A reportagem a seguir é esclarecedora e inclui os dois pontos de vista. Tendo a me posicionar aos depoimentos oferecidos no final, ou seja, que uma data comemorativa surge para homenagear lutas das minorias e "homem, branco e heterossexual", como dito, já possui seu dia: TODO DIA!


Dia do Homem: gênero masculino deve ter data?
POR ENQUANTO, PROPOSTA AINDA É POUCO DIFUNDIDA


Cristina Severgnini
cristina@gazetadosul.com.br

Hoje é o Dia do Homem. Mesmo sem fé pública, a data está entrando para o calendário de comemorações nacionais. Ainda bem menos difundida do que o Dia da Mulher, a data dedicada a eles existe desde 1999 e foi proposta pelo então líder soviético Mikhail Gorbachev, como incentivo para os homens cuidarem da saúde e destacar os papéis positivos desempenhados pelo gênero masculino. Com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), a celebração começou a ocorrer em vários países, no dia 19 de novembro.

Porém, no Brasil, embora sem nenhum decreto governamental, o Dia do Homem é comemorado em 15 de julho, e possivelmente seja a mais nova data festiva do calendário comercial. Produtos estão começando a ser lançados e lojas anunciam a homenagem como mais uma possibilidade de incremento nas vendas.

Como ainda não se trata de uma data tradicional, as pessoas têm dúvidas sobre como comemorar e o que seria mais apropriado. No Dia da Mulher, muitas empresas dão flores com um delicado cartão às suas funcionárias. Mas, de que forma poderão homenagear seus trabalhadores no Dia do Homem? Será que é data para dar mimos? Flores são adequadas?

Outra peculiaridade é que agora existe uma data que os homens esperam que as mulheres lembrem. Até então, cabia a eles não esquecer do Dia da Mulher, da Sogra, da Secretária, do aniversário de casamento e até a data dos namorados era tomada como um teste sobre as reais intenções românticas masculinas. Agora, é a vez de eles ficarem na expectativa: se as mulheres irão festejar a data e qual al proporção das demonstrações de apreço.

Entre as mulheres, algumas consideram a data uma oportunidade de retribuir a atenção recebida no dia dedicado a elas. Para a professora Célia Carvalho Lacerda, que também ocupa um cargo normalmente masculino como patroa do CTG Tio Itia, a data deve servir para repensar o papel do homem e da mulher. “Ninguém é superior e todos devem se respeitar”, salienta. “No tradicionalismo gaúcho, sinto igualdade e respeito, e os homens devem ser vistos como parceiros que nos dão apoio”, diz.

Segundo o historiador Mozart Linhares, as datas comemorativas relacionadas a gênero, etnia e outros, têm por objetivo marcar o quanto esses grupos são representativos de movimentos de luta por direitos e reconhecimentos. “São caracterizados justamente por marcarem uma identidade e um campo de lutas sociais”, comenta. “Não se comemora a normalidade e sim o que rasura, o que não é a norma”, diz. “Por isso, existe o Dia do Índio, do Negro e das Mulheres.”

“Ser homem, branco e heterossexual é a norma, foi a regra civilizatória do ocidente”, explica. “Toma-se como exemplo as lutas por reconhecimento do movimento feminista durante os séculos XIX e XX, nomeadamente uma luta das mulheres”, diz. “Daí a importância de marcar um dia como símbolo de uma memória de lutas, reatualizado pelas comemorações”, acrescenta. “Por isso, um dia do homem soa no mínimo como uma ironia ou mesmo um contrassenso.”

A coordenadora do Escritório de Defesa da Mulher, Iara Bonfanti, também não vê sentido na celebração, já que não existe nenhum aspecto histórico ou de luta a ser lembrado. “Dia dos homens é todos os dias, pois são eles que mandam.” Ela frisa ainda que as datas comemorativas não devem se restringir ao interesse comercial. “Nós feministas estamos sempre em busca da igualdade”, ressalta.


Para saber

O Dia do Homem, criado há 11 anos por Mikhail Gorbachev, teve como ideia inicial que fosse festejado internacionalmente no primeiro sábado de novembro, mas cada país acabou escolhendo uma data. As primeiras comemorações ocorreram em Trinidad e Tobago, em 19 de novembro de 1999, pelo médico Jerome Teelucksingh. Hoje a data é oficialmente celebrada também na Jamaica, Austrália, Índia, Estados Unidos, Cingapura, Reino Unido e Malta.

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