segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Ódio enrustido"


Sem argumentos para contestar Minc, a saída do governador Puccinelli foi humilhá-lo com ira homofóbica.



Há quem pergunte se Carlos Minc foi ou não vítima de homofobia. Sem eufemismos, o governador do Mato Grosso do Sul o ameaçou de estupro em praça pública e o descreveu como "veado". O tema da conversa era o plantio de cana-de-açúcar em uma bacia hidrográfica da região. Mas, na ausência de argumentos técnicos para criticar as decisões do ministro, a saída foi humilhá-lo pela ira homofóbica. André Puccinelli se desculpou pelo tom de ofensa que suas palavras assumiram na imprensa. Segundo ele, "o ambiente era diverso" por ocasião das declarações.

Saí à procura de ambientes onde a ira homofóbica poderia ser tolerada em nosso ordenamento democrático. Homofobia é uma ideologia que oprime expressões da sexualidade diversas da heterossexualidade. A discriminação pode se dar por injúrias, ameaças ou atos violentos. A homofobia humilha, mas também mata. O estupro é um dos dispositivos mais perversos de controle do corpo homossexual pela ira homofóbica. O mesmo sexo que ofende a moral é o sexo a ser castigado pela norma heterossexual. Não foi por acaso que Puccinelli ameaçou o ministro de estupro em praça pública. Como no período medieval, a humilhação à luz do dia garantiria o controle do corpo desviante.

Há países em que o homossexualismo é crime. Em uns poucos, punem-se as práticas gays com pena de morte. Entre nós, até pouco tempo desejar um corpo igual era receber uma classificação psiquiátrica de perturbação mental. Ser gay era ser doente mental. Ainda hoje há quem sustente a possibilidade de cura para o desejo homossexual, uma prática cuja seriedade é cada vez mais contestada nos meios acadêmicos. Mas é na ordem moral que o principal desafio da igualdade sexual se localiza. Para Puccinelli, a acusação de homossexualidade ofenderia a honra do ministro. Além de ameaçá-lo em sua virilidade, a punição pública seria o estupro - a demonstração máxima do poder masculino sobre os corpos femininos.

É vulgar desbravar a intimidade do ministro para inquiri-lo sobre suas práticas sexuais privadas. Mas é também covarde não descrever a ameaça de estupro do governador como violência. Para analisar esse incidente, basta avaliar a intencionalidade da ofensa homofóbica de Puccinelli. A sexualidade, assim como outras escolhas sobre como se quer viver a vida, é matéria de ética privada. Nesse incidente, o deslocamento do público para o privado tinha um único objetivo - silenciar o ministro por meio da humilhação homofóbica. Essa é uma das estratégias mais comuns da homofobia: ao invadir a intimidade, silencia-se o indivíduo pela vergonha e pela ameaça da violência física ou moral. Se homofobia humilha e mata, seria razoável não haver ambientes homofóbicos tolerados por um Estado democrático. Não sei qual foi o "ambiente diverso" que justificou as palavras de Puccinelli, mas há dezenas de grupos religiosos homofóbicos no Brasil que defendem a homofobia como uma forma da liberdade de expressão. Alguns desses grupos, além de descreverem o homossexualismo como perversão moral, promovem rituais de conversão à heterossexualidade em cultos públicos. Assim como parece ter sido o caso do governador do Mato Grosso do Sul, não se reconhece dignidade fora da norma heterossexual. O resultado é que a homofobia seria um direito, falsamente assentado na liberdade religiosa. A lógica dessa moral homofóbica é simples. A heterossexualidade seria a norma da natureza. Na natureza, só haveria machos e fêmeas, homens e mulheres. O restante seriam patologias da modernidade. O binarismo de gênero fundamentaria a moral sexual em que a reprodução biológica se sobrepõe à reprodução social. Só as uniões heterossexuais garantiriam a reprodução da espécie. Só os casais heterossexuais seriam uniões aceitáveis para a constituição de famílias. Em nome de uma falsa naturalização da moral heterossexual, a ideologia homofóbica se vê fortalecida e protegida pelo manto da liberdade de crença e expressão. Por isso, o direito à expressão homofóbica não causa o espanto que deveria entre nós. Essa é a força da ira homofóbica. Ela não se descreve como violenta, mas simplesmente como uma expressão legítima das crenças individuais de uma cultura patriarcal, que sustenta a supremacia heterossexual e masculina. Mas não há direito à homofobia. A homofobia é uma ofensa à dignidade humana e um crime contra a integridade individual. A intimidade deve ser uma esfera da existência inviolável para o confronto público de ideias. Não há "ambiente diverso" onde a homofobia possa se expressar isenta da censura democrática que reconhece o direito à sexualidade como uma expressão da liberdade.


Debora Diniz - O Estado de S.Paulo - Antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Teoria Queer por Paulo Mantello

"Você já ouviu falar em Teoria Queer? A denominação surgiu quando a feminista Teresa de Laurentis participou de uma conferência em 1990 na Universidade da Califórnia teorizando sobre as sexualidades gays e lésbicas.Fortemente influenciada pela obra de Michel Foucault, problematiza a noção de gênero e nem sempre tem sido bem aceita dentro e fora da comunidade gay, pois coloca em xeque conceitos como os de "identidade" e "sexo". Incomoda por desconstruir qualquer definição – de homem, de mulher, de hétero, de gay, de bissexual, de trans...Por que "queer"? Esta palavra, de origem inglesa, significa, literalmente, "estranho" ou "incomum". Foi usada como gíria em meados do século XX para referir-se aos homossexuais, sobretudo os masculinos. Há quem defenda que houve uma sobreposição das palavras "queer" com "queen" (rainha), o que designaria um homossexual afeminado que seria, simultaneamente, rainha e estranho.É assumida por uma vertente dos movimentos homossexuais para caracterizar oposição e contestação. Para estes, significa colocar-se contra a normalização. Seu alvo mais imediato é a heteronormatividade, no entanto, também não escapa a estabilidade proposta pela política de identidade do movimento homossexual dominante. Refere-se à diferença que não quer ser assimilada ou tolerada.A Teoria Queer pensa a sexualidade como uma construção histórica. A orientação sexual e a identidade de gênero não estão previstas na genética e nem podem ser consideradas como condição compartilhada por todos. Existe uma sexualidade para cada sujeito, ainda que seja possível encontrar pessoas com gostos e inclinações semelhantes. É essa semelhança que permite, por exemplo, agrupar os gays em "afeminados", "barbies", "ursos", "versáteis" etc. Porém, não se pode confundir a semelhança com a essência. São convenções sociais compartilhadas por determinados grupos, passíveis, portanto, de mudanças.A proposta é abolir as dualidades do tipo macho/fêmea e masculino/feminino. Seu caráter transgressor afirma um novo tempo, no qual é preciso pensar outras formas de nomear sem classificar. Não é apenas assumir que as posições de gênero e sexuais se multiplicaram, mas admitir que as fronteiras vêm sendo constantemente atravessadas, quando não é exatamente na fronteira que alguns sujeitos vivem – e sem que haja uma patologia."


Paulo Mantello
Jornalista, redator publicitário e psicólogo. Escreve a coluna de mesmo nome no jornal diário Folha da Região, de Araçatuba-SP, aos domingos, no caderno Vida (www.folhadaregiao.com.br).

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Amor entre irmãos

Doc "Questão de Gênero"


"Questão de Gênero acompanha, durante um ano, a vida de sete pessoas que, em comum, têm o sentimento de que nasceram em um corpo que não era seu. Homens que nasceram mulheres, mulheres que nasceram homens contam como se descobriram transexuais e como buscam viver em sua verdadeira identidade de gênero. O documentário mostra os sonhos, alegrias, dramas e transformações vividos por essas sete pessoas que lutam para superar preconceitos, conflitos e barreiras em busca de uma vida mais feliz."

Documentário - 90 minutos

Direção, roteiro e produção: Rodrigo Najar

Direção de Fotografia: Elton Luz

Ass. de direção e edição: Têmis Nicolaidis

Entre o rosa e o azul, mil e uma cores


O grupo de dança contemporânea Dança Pequena estreia no próximo dia 18/09, no Teatro Sesc Garagem, em Brasília, o espetáculo "O Espaço entre Rosa e Azul", que tem a proposta de discutir a dualidade dos gêneros e o peso dos rótulos na formação das identidades sexuais.

No solo, dirigido pelo coreógrafo e bailarino Édi Oliveira e interpretado pela bailarina Danielle Renée, uma personagem lésbica questiona o conflito entre a identidade que se possui e o corpo que se tem. A performance brinca com os signos e fetiches que ilustram os papéis de gênero e trata a sexualidade de forma ampla, com todos os seus contrastes e complexidades.

Para falar sobre o espetáculo, o site A Capa conversou com Danielle Renée, bailarina de formação clássica que integra a companhia desde 2005. Nesta entrevista, que você confere a seguir, Renée fala sobre o processo de criação do solo, discute seus reais objetivos e afirma que, entre o rosa e o azul, existem mil e uma cores.

Por que discutir a identidade de gênero?
O entendimento sobre a sexualidade humana ainda permanece uma fonte de incompreensões e mal entendidos, mesmo que ela seja foco de sérias pesquisas científicas e abordada por importantes e fundamentadas teorias psicológicas. Nos parece absurdo que ainda nos dias de hoje existam posturas fechadas e arredias à ideia de que a sexualidade humana não possui uma única forma de se manifestar, de que as variantes possíveis são múltiplas, e até mesmo intercambiáveis entre si. O espetáculo surge na tentativa de ilustrar e exprimir, através de uma abordagem artística, percepções e leituras referentes à questão da identidade de gênero e aspectos que a envolvem.

De onde veio a ideia do espetáculo?
A idéia do espetáculo surgiu a partir do meu desejo e necessidade, de abordar a temática da sexualidade. Inicialmente, o foco temático do espetáculo seria a homossexualidade feminina, mas durante o processo criativo a questão da identidade de gênero se fez mais presente e motivou mais fortemente a construção das cenas e de toda a estrutura do solo, permanecendo então como assunto foco do espetáculo.

Há quanto tempo você vem se preparando para este solo? Como foi essa preparação?
A preparação durou 6 meses, somando o período de discussões prévias sobre a temática, laboratórios coreográficos, preparação física, fase de construção das cenas, seleção de trilha musical, confecção de cenários e figurinos e estrutura dramática do solo. A preparação se focou mais no potencial de interpretação e sensibilização da intérprete sobre o tema do que na construção das coreografias em si, resultando em um espetáculo com forte teor performático e teatral. Ocorreram laboratórios de sensibilização, de construção textual, de composição coreográfica, discussões contínuas sobre a temática, tudo no intuito de fortalecer e esclarecer os aspectos componentes da personagem e das cenas.

De que forma a dualidade macho-fêmea é traduzida no espetáculo?
A dualidade macho/fêmea aparece no espetáculo através de signos e até mesmo clichês que até hoje são usados para ilustrar e determinar padrões comportamentais do homem e da mulher, da infância à idade adulta. No espetáculo, estes signos são deslocados e ganham novos significados de maneira sutilmente irônica e poética.

Que referências externas sobre gênero e sexualidade você utilizou para construir sua personagem?
Além de nossas próprias experiências e referências de crescimento e amadurecimento como mulher e homem gay (intérprete e diretor), buscou-se referências em histórias e experiências de pessoas conhecidas e também em textos acadêmicos e literatura sobre o tema.

Você acredita que é possível pensar em múltiplas identidades sexuais? Como essa questão é tratada no espetáculo?
Sim. A ciência e a psicologia já catalogaram mais que apenas duas identidades de gênero possíveis, indo muito além da ditadura determinada pelo binômio macho/fêmea. Heterossexuais, gays, lésbicas, transexuais, bissexuais etc, compõem sexualidades não engessadas em si mesmas, mas com variantes comportamentais, psicológicas, afetivas, que podem até mesmo se mesclar e emprestar características umas às outras. O espetáculo ilustra essas mesclas possíveis no corpo, história e atitudes da personagem lésbica que questiona e responde ironicamente as taxações e ofensas que recebe, que expõe agressivamente o que tem a dizer, que exprime força e fragilidade, doçura e agressividade ou executa atitudes ditas "masculinas e femininas" em um mesmo corpo e contexto.

A trilha sonora tem papel determinante na forma como vocês discutem a questão da identidade de gênero?
A trilha sonora opta pela sonoridade do rock. Músicas que exprimem agressividade, força e rebeldia, cantadas apenas por mulheres, ajudam a construir um clima de questionamento, de posicionamento firme e ironia, reforçando o discurso da personagem.

Como o corpo e a palavra dialogam para contar a trajetória da protagonista?
Apesar de se tratar de um espetáculo de dança, a presença da palavra em forma de textos vem auxiliar na compreensão da abordagem temática e na apresentação do universo da personagem, expondo suas opiniões, memórias, questionamentos. O texto entra na mesma sintonia das coreografias, mesclando momentos de doçura, agressividade e até mesmo revolta.

Vocês pretendem viajar com o espetáculo para outras cidades do país?
Viajar com um espetáculo é sempre uma expectativa do artista. No entanto, essa expectativa está subordinada a diversos fatores: agenda, patrocínio, convites, produção etc. Por isso, preferimos primeiro dar vida ao espetáculo, entender como será a receptividade do público, como ele funciona, como ele se comunica com o imaginário da plateia, para então podermos conhecer o real produto que temos nas mãos e pensar na necessidade ou não de modificações. Só a partir daí pensamos mais concretamente em apresentar o espetáculo a festivais ou responder a convites, além é claro da expectativa de contar com apoio ou patrocínio que viabilize a circulação do espetáculo. Mas não há como negar que um dos objetivos da montagem de um espetáculo é sempre dar vida longa a ele, podendo apresentá-lo a públicos diversos.

Serviço:
O Espaço entre Rosa e Azul
Data: 18, 19 e 20 de setembro
Horário: 21h (sexta e sábado) e 20h (domingo)
Local: Teatro Sesc Garagem - 913 sul - Brasília (DF)
Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)


Márcia Aran em Niterói

Aconteceu dia 16/09 em Niterói a conferência com a psicanalista e professora do IMS- UERJ Márcia Aran sobre "Sexualidades contemporâneas e as novas formas de pensar a diferença na psicanálise" promovido pelo Espaço Brasileiro de estudos psicanalíticos, EBEP. Reproduzo abaixo o texto de divulgação:

"Diante da nova cartografia das relações entre gêneros e sexualidades na cultura contemporânea pretende-se discutir em que medida algumas teorias baseadas na psicanálise e em outras vertentes das ciências humanas e sociais procuram reinstaurar o modelo binário e hierárquico da diferença sexual através de um discurso sobre o "perigo do apagamento da diferença" e a "crise do simbólico". Além disso, através de um estudo sobre as redescrições da noção de diferença, alteridade e singularidade procura-se analisar em que medida pode-se estabelecer uma relação produtiva com as novas configurações de gênero no contemporâneo, abrindo brechas para a concepção de novas formas de subjetivação. Com este objetivo, analisa-se o debate atual sobre (1) os deslocamentos do feminino e a positivação da feminilidade, (2) o casamento homossexual e a homoparentalidade e (3) as modificações corporais realizadas por transgêneros, travestis e transexuais."

II Simpósio Internacional sobre Gênero, Arte e Memória

O II Simpósio Internacional sobre Gênero, Arte e Memória: todos os dons de Pandora objetiva propiciar a discussão sobre a produção artístico-cultural vinculada às questões de gênero. Com enfoque inter e transdisciplinar, o encontro volta-se a pesquisadores, estudantes e profissionais das áreas de Arte, Música, História, Filosofia, Educação, Comunicação, Literatura, bem como demais campos que abordem as reflexões sobre Gênero, Arte e Memória, nas suas diversas relações que tratem de representações e categorias emergentes na contemporaneidade. Acontece do dia 02 a 04 de dezembro, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul.

Mais informações em:

http://www.ufpel.edu.br/iad/sigam/

domingo, 6 de setembro de 2009

Medo de rejeição torna gays escravos de si?

O título da reportagem é uma afirmação, mas aqui no blog resolvi transformá-lo em questionamento. "Medo de rejeição" não seria um sentimento por todos compartilhados, uns mais outros menos? Conheço "heteros" excessivamente atenciosos. Será que as qualidades citadas, "simpáticos, divertidos, carinhosos, amigos, educados, inteligentes", seriam apenas uma forma de defesa? E de gays em particular?! E quanto "a nossa felicidade"? Apenas uma "proteção", uma "compensação dos momentos de solidão"? A "dificuldade da conquista de nossos direitos" tendo como causa o fato de os gays serem vistos como "pessoas felizes" e que, portanto, não teriam do que reclamar, não é um tanto reducionista? Os atravessamentos são os mais diversos. O que você acha? Leia abaixo a reportagem:



"Medo de rejeição torna gays escravos de si.

Gays tentam, desde cedo, provar que são melhores do que os héteros, o que causa uma grande crise existencial. Quantas vezes já ouvimos falar que os gays são mais simpáticos, divertidos, carinhosos, amigos, educados, inteligentes, entre outras coisas boas? Por trás desta aparente “supremacia” está um fato merecedor de atenção: com medo de rejeição, muitos gays fazem de tudo para agradar, passando por cima de seu orgulho, a fim de compensar algo que não precisa ser compensado. É o preconceito internalizado, o medo da rejeição.

Sabe aquele amigo gay que sempre traz o cafezinho? Ou aquele que te liga sempre, pede desculpas mesmo quando está certo e que, quando você pede, um favor nunca te nega? Pois é, dele que estamos falando. Provavelmente, na infância, ele era um dos mais estudiosos da turma, talvez o melhor aluno da classe. Ele também se destacava em várias coisas, em artes, cultura, esportes, ele sempre se esforçava para ser o melhor em alguma coisa, em ser discreto. De algum modo, ele tentava compensar o que no seu preconceito interno o tornava inferior, o fato de ser diferente. Mas um dia, ele quer viver a liberdade de falar o que acha, de fazer o que quer e dar um chega nessa subserviência na qual ele mesmo se colocou, daí, muitas vezes, temos o famoso “chilique”.

Os gays não precisam fugir da pesada cruz que carregam mas não podem achar que se humilhando ao invés de lutar pelos seus direitos estarão colaborando para algo. Quando fala-se em promiscuidade, traição, falam que os homossexuais são os campeões, discordo plenamente. Talvez no mundo G , a convivência nos guetos, as coisas sejam mais transparentes, pelo universo reduzido. Um bom exemplo da miopia dos héteros sobre o mundo gay está na descrição dos gays como “pessoas felizes”. Muita calma. Além do medo de rejeição, passamos 24h com medo de agressões, não podermos beijar o namorado em público, assassinatos, ridicularizações, piadinhas, medo da reação de nossos pais, do patrão, do amigo que não sabe, de cair no estereótipo, de fazer alguma besteira que somada a nossa orientação sexual (pois desejo não se escolhe, e seria muito estúpido escolher viver todos esses medos) vai agravar o que pensam de nós...

Ainda assim, as pessoas nos vêem como pessoas felizes. A nossa felicidade é um modo de nos proteger dos dedos que nos apontam, é uma forma de compensar os momentos de solidão. Talvez isso explique a dificuldade da conquista de nossos direitos, a final, se fossemos felizes, por que estaríamos reclamando?

Fonte: Revista Lado A"

agradecimento: Rodrigo Cotrim.